A BANDA DA SEMANA DO PAULO ANDRÉ (Reloaded) – WHORES.

Uma irritante constipação e um vício inexplicável com os álbuns novos de Filii Nigrantium Infernalium e Beastmilk resultaram numa distinta preguiça aqui no vosso humilde anfitrião. Tanto assim é que se torna inevitável repescar aquilo que já havia escrito sobre a banda desta semana, no #153 da LOUD!, publicado já neste mês de Dezembro.

Tendo passado relativamente despercebidos com a estreia em 2011, «Ruiner.», já não é mais possível fazer segredo destes Whores. Isto porque o novo «Clean.», que na realidade é tudo menos limpo, é de uma banda que não só rejeita o cliché do “difícil segundo álbum” como supera o primeiro a todos os níveis. E nem é que «Ruiner.» seja assim-assim, é tão somente porque «Clean.» é mesmo pior que droga, tal o seu potencial para agarrar. É na força individual de cada tema que está o segredo do triunfo, tanto no groove de uns Helmet (ali por alturas do «Meantime») em «Last Looks» e na sarcástica «I Am Not A Goal-Oriented Person» ou na combustão lenta de temas como «Cougars, Not Kittens» e «I Am An Amateur In Everything». Com uma secção rítmica de betão e uma sonoridade in-your-face meio Shellac, meio Unsane, a cereja no topo de bolo é a voz do também guitarrista Christian Lembach, quase sempre à beira de um ataque de nervos mas fazendo-o com a classe e elegância dos melhores.

E com isto resumo o petardo que estes norte-americanos realmente constituem, eles que apresentam este erudito nome que tão bem distingue o som que fazem. Sim, porque são tão directos com a sua música como o foram no baptismo da banda. Esta foi, aliás, uma questão que abordei com o vocalista e guitarrista da banda, Christian Lembach, numa conversa em que se falou também da génese deste power trio de noise rock e se levantou um pouco o véu sobre o seu modus operandi.

Conta-nos um pouco sobre como se formaram os Whores, Christian.
Conheci o Travis (baterista) de forma algo atípica. Estávamos na altura em bandas que partilhavam o mesmo espaço de ensaio e um dia ele bateu à porta a perguntar se estávamos à procura de um baterista, porque soube que estávamos a fazer audições para essa posição. Demo-nos bem imediatamente e acabámos por tocar nessa banda – que eram os Black Mollies – durante anos, mas que eventualmente acabou por se dissolver. Nessa altura voltei para a escola e tirei o meu curso de Jornalismo e acabámos por nos afastar. Algum tempo depois voltei a tocar noutra banda e o Travis veio a um concerto nosso, perguntando se eu estaria interessado em tocar com ele de forma mais casual, sem compromisso. Fizémos isso e tornou-se óbvio que tocar juntos simplesmente fazia todo o sentido. E foi assim que começámos a compôr os temas que deram origem ao «Ruiner.».

Ora aí está um caso de simbiose. E como é que o Jake apareceu para completar o trio?
O Jake também acabou por vir para a banda com uma história semelhante. Ele tocava nos Norma Jean e veio a um concerto dos Whores, quando tocávamos com outro baixista. Esse baixista entendeu que não queria dedicar à banda o tempo e esforço que nós queríamos, algo que respeitámos totalmente. O Jake acabou por “safar” um concerto e sentimos logo que havia ali um vibe especial entre os três. Assim que saímos do palco, o Jake disse-nos imediatamente que queria fazer parte da banda. Isto preocupou-nos, de certa forma, pois temíamos conflitos de disponibilidade devido à sua outra banda, que é bastante popular e anda bastante na estrada, o que nos levou a experimentar vários outros baixistas. Mas foi aí que tive uma conversa honesta com o Travis e decidimos que seria parvoíce tentar fazer as coisas funcionar com outra pessoa que não o Jake. Somos amigos, compreende-mo-nos e temos uma química incrível. Ele acabou por vir para os Whores a tempo inteiro, abandonando a outra banda.

Como é suposto encarar o nome da banda? É o dedo do meio esticado a apontar para algo, alguém ou talvez para tudo ao mesmo tempo?
Acho que passamos demasiado tempo a falar do nosso nome. Deixa-me dizer-te isto: não é suposto ser um comentário misógino. É suposto ser um comentário sobre a burguesia e a subjugação que a maioria das pessoas é forçada a enfrentar. Percebo que seja um pouco pretencioso da nossa parte, especialmente para uma banda castigadoramente barulhenta como nós, mas é a verdade.

E quem diz a verdade não merece castigo, como dizemos por aqui. A raiva do vosso disco anterior parece dirigida ao exterior enquanto que no novo álbum parecem ter invertido o sentido e apontado mais ao vosso interior. Que tipo de sentimentos levaram à composição do «Clean.»? Títulos como «I Am Not A Goal Oriented Person» ou «I Am An Amateur At Everything» soam bastante auto-comiserativos, se levados à letra…
Não és o primeiro a dizer isso mas foi certamente novidade para mim quando as pessoas começaram a dizê-lo. Acho que a minha intenção era realmente demonstrar todo o potencial que revelámos com o primeiro álbum, em vez de descansarmos sobre qualquer tipo de louros. Por isso quis ser bastante duro comigo próprio. Queria ser muito rigoroso em não me deixar conformar em termos de composição, letras, tons, mistura, etc. Sei que não sou especial, mas queria fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para produzir algo especial. Parte desse processo é a deflação do próprio ego.

Consigo ouvir bastante Unsane e Helmet na vossa música, por exemplo. E até algum niilismo Swanesco. Confirmas ou desmentes?
Yup, adoramos isso tudo. Mas estranhamente, ouvimos muito mais música pop do que possas imaginar. No entanto, essas bandas que indicaste é onde efectivamente estão boa parte das nossas raízes.

E fora as influências musicais, onde mais vais buscar inspiração?
Vou buscar muito à literatura, ao cinema e à cidade.

A vossa música tem um groove tal que se torna particularmente orelhuda. Um bom exemplo disso é a «Last Looks» deste novo disco. Fala-me um pouco do vosso processo de composição para chegar a temas destes, tão simples mas ao mesmo tempo tão eficazes.
Eu tinha o riff principal da «Last Looks» já há algum tempo e andava aqui às voltas com ele. O riff vem sempre primeiro. Quando estamos a compôr, não sabemos se aquele riff vai ser nos versos ou se será o refrão, ou se estará simplesmente isolado. Mas o riff é sempre a primeira coisa a aparecer. Depois tentamos encontrar um contraponto e meter os dois a jogar um com o outro. Habitualmente gravamos nessa altura, eu trago a gravação para casa e trabalho num arranjo básico da coisa para depois tocarmos esse arranjo na sala de ensaio. Gravamos o resultado e é aí que começo a trabalhar nas letras. Por vezes quando escrevo as letras, acontece que o arranjo mude radicalmente. Ainda temos canções que gravámos na altura do «Clean.» que continuam sem ter visto a luz do dia.

O que é que se pode esperar dos Whores. daqui em diante agora que a visibilidade da banda aumentou bastante?
Temos um split single prestes a sair em Janeiro com uma banda fantástica de Portland. Gravámos ambos covers da mesma banda e acabou por ficar muito porreiro. Estou entusiasmadíssimo com isso.

E em termos de estrada e concertos ao vivo? Qual é o programa das festas?
Olha, tínhamos uma proposta de tour na Europa para Janeiro já combinada há muito tempo mas infelizmente acabou por cair à última da hora devido à falta de financiamento. E estávamos cheios de vontade de ir até aí, sinceramente. De resto, vamos tocar no SXSW em Março e marcámos mais uma digressão DIY à volta dessa data. Temos tido também algumas propostas para digressões nos primeiros meses do ano que vem e planeamos fazer Estados Unidos e Europa durante 2014. Adorávamos ir também até à Austrália e ao Japão. É uma loucura, a verdade é que só temos dois álbums com duração de EP, mas queremos é tocar. Já estou a escrever temas para o nosso próximo álbum e temos até já um título provisório para o mesmo. Só queremos mostrar às pessoas aquilo que sabemos fazer. Estamos preparados.

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