A BANDA DA SEMANA DO PAULO ANDRÉ (Reloaded) – HARM’S WAY

Admitam lá que já tinham saudades de uma banda para andar tudo à bofetada. Depois do heavy rock instrumental dos Zolle e do ultra-pesado post-metal/doom dos Vulgaari, eu pelo menos estava a começar a sentir falta daquele tum-pa-tum-pa. Não?

Nem mesmo um pretexto para um bocado de hardcore dancing?

Grande nota artística, como diria o Jesus.

Seja como for, fiquemos então a conhecer – para quem ainda não teve essa oportunidade – os Harm’s Way, naturais de Chicago e que têm um vocalista que fisicamente rivaliza a sério com o Schwarzenegger do tempo em que, sozinho, levantava cabines telefónicas do chão, matava extraterrestres da cena com esquemas do arco da velha, viajava até Marte (mas só dentro da cabecinha dele), era temporariamente russo e dava cabo de senhores da droga e tão somente exterminava exterminadores – ou era ele próprio um exterminador que importava exterminar.

ANYWAY.

Antes que isto se transforme numa antologia do cinema-porrada (nota: não me desagradaria de todo), fiquemos pela música do mesmo calibre. Voltando à proverbial vaca fria, os Harm’s Way já andam nisto desde 2006, com dois 7”, dois EPs e dois LPs à sua conta. E por “isto”, entenda-se um misto de hardcore metálico com apontamentos industriais, actualmente bastante assente naquele serrote típico dos Entombed/Dismember ao qual tão bom uso tem sido dado por diferentes bandas neste género, sobretudo nos Estados Unidos. Quem lhes achou certamente piada terá sido o Jacob Bannon (Converge), uma vez que o mais recente EP da banda é o primeiro lançamento pela mão da sua Deathwish.

Sobre estas e outras coisas – embora nada sobre o Arnold, lamento – falámos um pouco com o (tal) vocalista Hammers McPligue, conversa da qual se podem inteirar logo a seguir ao vídeo.

O vosso novo EP, «Blinded», saíu recentemente e é o primeiro pela Deathwish. Como é que surgiu esta oportunidade e o que é que mudou na forma como funcionam?
Curiosamente, tivémos a sorte de os contactar ao mesmo tempo que eles tiveram interesse em trabalhar connosco, por isso foi tudo bastante simples e amigável. O impacto tem sido muito positivo no que toca a chegar a pessoas que normalmente não conseguiríamos alcançar, especialmente na internet. Estamos muito satisfeitos por fazer parte do catálogo deles.

Ainda sobre o «Blinded», embora tenha um vibe de death metal old school género Entombed, tem também claramente profundas raízes no hardcore, além de algumas partes mais ambientais que criam tensão. Concordas com esta análise? Quais foram as vossas principais influências neste disco em particular?
Sem dúvida. O que mais nos influenciou desta vez foi Celtic Frost mais recente e Entombed, mas também há muitas partes que surgem à volta de outras bandas. O processo de composição para este álbum foi muito cooperativo, com todos a contribuírem algo, e isso também ajudou a que as ideias e os riffs tivessem diversas origens distintas.

Vocês já fizeram três digressões pela Europa. Quais são as principais diferenças em relação a fazer o mesmo nos Estados Unidos? O público aceita-vos à partida quando não vos conhece ou ficam de pé atrás?
Adoramos andar pela Europa. É muito diferente de casa. Aqui por vezes ficamos com a sensação que as pessoas estão habituadas a que bandas de todos os tipos passem pela sua cidade que talvez não apreciem tanto isso como alguém do outro lado do planeta. É uma boa mudança de cenário para nós. O nosso único problema com a última digressão que fizémos na Europa foi a longa duração da mesma, já estávamos a sentir muita falta de casa ao fim de cinco semanas.

Ainda sobre esse assunto, sei que vocês são uma banda straight-edge. Até que ponto é complicado manter esses hábitos quando estão na estrada?
Comemos bastante mal na estrada, sobretudo na Europa. Alguns de nós são vegan/vegetarianos por isso normalmente andam à procura de mercearias e sítios do género, e acho que em geral se safam bastante bem. O James e eu tendemos a comprar seja o que for que conseguirmos encontrar.

O artwork do «Blinded» foi feito pelo ilustrador alemão Florian Bertmer, que já colaborou com bandas como os Napalm Death, Agoraphobic Nosebleed, Converge e All Pigs Must Die. Por que decidiram trabalhar com ele e o que procuravam alcançar com aquilo que acabou por se revelar uma peça de arte muitíssimo interessante?
Penso que o Chris falou com o Jacob, na Deathwish, e sugeriu que o Florian trabalhasse em algo para nós. Conversámos entre nós, durante uma noite num ensaio, sobre o que gostaríamos de ver no álbum e o Chris reencaminhou a ideia. Foi apenas isto. Há realmente muito pouco a “decidir” quando tens a oportunidade de trabalhar com um artista como ele e estamos extremamente contentes com a forma como as coisas resultaram.

O que é que vos interessa em particular que não seja necessariamente relacionado com música? Não sei porquê, tenho um pressentimento que são fãs do Breaking Bad, mas posso estar enganado.
O Chris e o James interessam-se imenso por desporto, especialmente basket e baseball. O Jay é mais um tipo dos carros e do hockey e eu não faço grande coisa para além da música. Os Harm’s Way acabam por ser um grupo de gente bastante eclético, temos esta piada em que costumamos dizer que se estivéssemos todos numa paragem de autocarro, quem não soubesse que estamos juntos numa banda não faria a menor ideia, pois somos todos bastante diferentes. E sim, alguns de nós somos bem fãs do Breaking Bad.

O que pretendem fazer a partir de agora? Podemos esperar um novo longa-duração, agora já na Deathwish?
Sim, é essa a nossa intenção, escrever e gravar um novo álbum e voltar a trabalhar com a Deathwish. Sem dúvida alguma.

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