A BANDA DA SEMANA DO PAULO ANDRÉ: BUDD DWYER

Ano novo, vida nova. Nunca antes este sábio ditado soara tão verdadeiro, a julgar pela proximidade que o anunciado Fim do Mundo teve do final do ano. Eu que estava plenamente convencido que desta é que era, sinto-me como se o Criador tivesse inserido mais uma moedinha e com isso me tivesse magicamente concedido uma vida extra. Era a altura certa para finalmente abraçar o desafio que me havia sido lançado há uns meses pelo José Carlos Santos, meu caro Chefe de Redacção, e que consistiria em discorrer semanalmente sobre bandas do meu agrado, aqui mesmo no tasco cibernético da LOUD!. Por que haveria alguém de achar isso interessante é uma questão que fica como exercício ao leitor, já que eu não tenho resposta para ela. Apenas o meu gato demonstra um interesse passageiro na coisa e mesmo isso parece-me um plano cínico para conseguir comida.

Primeiro que nada: regras. Não há. Qualquer estilo serve, embora vá deliberadamente evitar qualquer membro da família Carreira neste espaço. Quem me conhece sabe que tenho uma predilecção pela chamada “castanhada”, mas quando o Elvis reaparecer finalmente e voltar aos discos não hesitarei em dedicar-lhe umas palavras sentidas. Em todo o caso, digamos que esta rubrica partiu de um interesse em dar alguma visibilidade a projectos mais obscuros, pelo que é bem mais provável que discorra sobre uma banda eslovena que nem os amigos deles conhecem do que os Converge.

Apresentações feitas, sigamos para o que interessa. 2012 morreu, mas ainda está quente e por entre inúmeras audições do novo EP da Besta ou o último dos Deftones há sempre tempo para ir descobrindo coisas novas. Num mar de novos lançamentos diários, especialmente no “underground do underground”, os Bandcamps e afins vieram dar uma preciosa ajuda para manter minimamente as coisas no radar. Um desses exemplos, que justificou o seu lugar na estreia aqui da Banda da Semana, são os Budd Dwyer, oriundos de New Brunswick/New Jersey, USA. E quem foi Budd Dwyer, cara que aparece nas t-shirts dos “nossos” Revengeance, banda que aliás partilha bastante da sonoridade destes norte-americanos? Dwyer tornou-se uma das mais míticas figuras do panorama político americano quando, em 1987, decidiu suicidar-se em directo reclamando a inocência num escândalo de corrupção de grandes proporções. Good ol’ prime time TV. Sem dúvida uma boa inspiração para uma banda de grindcore/powerviolence sem maneiras nem pudores. Sabiam que os próprios Kreator usaram este imaginário, que deu origem ao fantástico «Karmic Wheel» do seminal«Renewal» em 1992?
Já estes Budd Dwyer são para quem continua a ressacar do ponto final que os Insect Warfare colocaram na sua carreira ou para quem adora os Pig Destroyer mas até vive bem sem o som todo limpinho com que o Scott Hull grava aquilo. E um toque demencial e hardcore/sludgy dos saudosos Iron Monkey, já agora. Grindcore do melhor mau gosto, que não dispensa aquelas passagens de “bailarico” boas para andar tudo à amigável chapada e beber uns canecos. É bem possível que fiquem perdidos nas profundezas das internets, mas qualquer explorador que dê com esta tripleta, especialmente com a estreia em longa-duração auto-intitulada do ano passado, dará a sua meia hora por muito bem empregue.

buddxdwyer.bandcamp.com

Outras coisas, esta semana, por aqui:
• «Cash»: Autobiografia do Johnny Cash
• Sons Of Anarchy
• Porcupine Tree, «Atlanta» e «Octane Twisted»
• 40s/50s film noir: «Out Of The Past», «Double Indemnity», «Touch of Evil»

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