O tempo parece que voa, e aqui estamos nós, já a atingir o ponto médio de 2021. Os balanços mais sérios, como de costume, serão feitos no final do ano, mas apesar das limitações que a pandemia continua a teimar em nos impôr, a verdade é que já houve uma quantidade assinalável de lançamentos para fincarmos os dentes durante a primeira metade deste ano. Assim, pedimos aos membros da nossa redacção para, de forma descontraída e sem pensarem demasiado nisso, nos dizerem aquilo que 2021 teve de melhor para eles em termos musicais até agora e, porque não, soltar alguma bílis escolhendo também o pior. Depois do Ricardo S. Amorim, cabe agora a voz ao Emanuel Ferreira:
O MELHOR
STEVEN WILSON
«The Future Bites»
[Caroline International]
Este disco é um bom exemplo do “seguir em frente” que STEVEN WILSON tem feito desde que descobriu poder agradar às massas. Com «The Future Bites» oferece uma obra com letras tão actuais como ácidas, cujo pendor electrónico dificilmente agradará aos fãs de progressivo mais metalizados, ou aos hipsters empedernidos, desde já pedindo desculpa pela redundância da expressão. Todavia, feito o esforço de ultrapassar as três ou quatro primeiras escutas, o disco entranha-se e toma o cérebro do ouvinte, alocando nas meninges três ou quatro melodias irritantemente atractivas. Se ULVER é cool, porque não pode ser STEVEN WILSON? Not flavour of the month? Se calhar residirá aí o problema e a razão para que o disco seja ignorado, mas escutar «Personal Shopper» é delicioso. O jogo de «Unself»/«Self», surge como ovo de Colombo, na forma de poder ser original, enquanto «Count Of Unease» faz recordar que o britânico é também um bom vocalista, para lá de excelente compositor.
«The Future Bites» pode não ter solos de guitarra, gotejar sangue ou erguer monólitos negros em tábuas de ouija, mas mistura abordagens subtis, com poemas ácidos, no meio de layers de electrónica interessante. Chama-se música a tudo isso, e entretém como um “fucking clown”.
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O PIOR
SAXON
«Inspirations»
[Silver Lining Music]
Já satura um pouco o velho recurso ao disco de tributo. “Vamos lá encher chouriços, sacar guito aos fãs e dizer o quanto gostamos de bandas antigas”, é uma atitude esgotada e que raramente resulta. Quase sempre as versões acabam a ser preguiçosas, muitas vezes previsíveis e raramente justificando a gravação. Com «Inspirations», os SAXON oferecem à comunidade musical um bom exemplo de “como não fazer”. Assassinar «Immigrant Song» é fácil e qualquer um pode fazer, mas transformar «Bomber» em algo que dificilmente surgiria num lado B de um single de Motörhead. A preguiça agrava-se com algumas das escolhas, demasiado óbvias, como «Paint It Black» dos Rolling Stones. O mesmo se passa com a lista de bandas escolhida, onde, às já referidas, ainda se junta AC/DC, Black Sabbath, Deep Purple, Beatles e os habituais The Kinks que só se escutam mesmo em discos de versões. Trazer uns Foghat, ou Slade seria assim tão complicado? Apesar disso, enalteça-se a capa. Na idade avançada de alguns membros do grupo, é natural que apreciem os desenhos de alguns dos netos e neste caso, até resulta bem, pois basta olhar para a capa e logo perceber o aviso “a evitar”, que subliminarmente transmite ao curioso que até considera adquirir a obra.