O rock no Porto é algo marginal e obscuro, que ocorre em conclaves semi-secretos a horas estranhas; por exemplo, um domingo solarengo a meio da tarde. Local: Barracuda, Clube de Roque, entre outras coisas. Há todo um lado familiar, quando o dono do clube chega à porta, e com um “vamos lá”, move banda e alguns assistentes para dentro, a tempo de iniciar THEE MAGNETS. O baterista, um ex-Cães Vadios, esquecido dos óculos, tem dificuldade em ler a referência correcta nas baquetas. O vocalista, ao fim do primeiro tema pronuncia um “boa noite”, logo corrigido com um conjunto de bocas da assistência. Se The Doors prescindiram de baixista na sua formação, já THEE MAGNETS prescindem de guitarrista, optando por teclas reforçadas por uma secção rítmica e todos nos coros. O som é um surf ou garage rock, algo por aí, sempre com ritmo, alguma pose, um vocalista que se ajoelha, tanto sobe colunas, como rebola no chão e alguns temas que arrancam mal ensaiados, mas logo a experiência da veterania, permite a todos recuperar o ritmo. Este quarteto portuense, é o tipo de banda de que nunca se compra um CD ou vinil, mas a que se assiste sempre com um sorriso na cara. O bom rock quer um palco e não um registo físico.
THE LORDS OF ALTAMONT é mais uma entidade que um grupo, Jake “The Preacher” Cavaliere, organiza desde 1999 a sua congregação, por onde já passaram mais de uma dezena de elementos. O formato para a cerimónia é de quarteto, mas toda a cerimónia é presidida por um Jake, que afirma, a propósito da matinée, “nunca ter visto o Sol”, “adorar o seu emprego”, mas espera no final “passar no teste de drogas”. É ele mesmo que carrega, literalmente, as teclas, convida, à vez, a assistência a tocar por ele e que, menos de um minuto após o início do concerto, já está em cima do teclado a cantar.
Atenção que Dani Sin, guitarra, Rob Zimmerman, baixo, e Steven Knuckles, bateria, são bons acólitos e contribuem bastante para uma cerimónia em que o quarteto acaba a tocar temas para lá do alinhamento, sugerindo entre eles quais as malhas a adicionar. Apesar dessa cumplicidade, percebe-se claramente que Jake Cavaliere brilha mais alto, evocando o espírito de uns MC5, e fica-se a imaginar como seria numa sala maior, embora aqui, até a exiguidade do espaço tenha ajudado bastante à interacção que tornou esta tarde de domingo algo mítica.