VADER:
O fogo e a morte

O Peter é um senhor. Porque mantém genuína e interessante uma banda há várias décadas, porque tem um discurso com substracto, porque faz death/thrash metal de forte impacto e validade. Se o seu carisma incomoda outros tantos, o problema não é dele. Isto para dizer que «Tibi Et Igni», o mais recente álbum dos VADER, é tudo o que podem esperar do seu fundador e ainda um pouco mais. Em antecipação ao regresso da banda a Portugal — no dia 26 de Março — para um concerto único no Paradise Garage, em Lisboa, recordamos parte da conversa — publicada na LOUD! #159 — do Nelson Santos com o músico polaco.

A cada registo, arranjas sempre forma de tornar as coisas interessantes. Com a formação renovada, o fogo continua ardente no seio dos Vader?
Eu penso que sim. Há dois anos que esperávamos por gravar isto, especialmente por termos um novo baterista como o James [Stewart]. Embora soubesse do profissionalismo dele nos concertos, sobrou tempo para que nos conhecêssemos bem já em estúdio e funcionássemos como uma equipa bem oleada. Voltámos a gravar com os irmãos Wieslawski, mas um aspecto que acho importante é termos gravado num estúdio completamente renovado com material topo de gama, mas com o digital reduzido ao mínimo. Eu não quero estar sempre a falar nas bandas antigas mas, para mim, este álbum soa-me como os de antigamente, sem triggers, o mais natural possível, e acho que uma banda como Vader tem a ganhar com isso. Soamos melhor sem o excesso de ferramentas modernas.

E é material variado; tanto podemos ouvir um petardo de dois minutos como algo mais épico de quase sete. É importante manter essa variedade dentro dos Vader?
É importante um equilíbrio entre as diferentes nuances desta banda. Este é o décimo álbum da banda – ou 20º se contarmos com tudo o que já lançámos, mas também já os deixei de contar – e, ao fazer uma setlist para os concertos que aí vêm, não podes ter só blastbeats a toda a hora. Na minha opinião, continuamos poderosos, mas precisamos de manter as coisas interessantes. Nos primeiros discos, admito, tínhamos material que não era muito diversificado mas, especialmente, ali a partir do «Revelations», tentamos dar mais emoção e variedade aos temas. Sem perder o espírito dos Vader. Acho que conseguimos isso outra vez. Somos uma banda intensa e este é, provavelmente, o nosso álbum mais longo de sempre. Não é fácil tocar assim intensamente, de forma interessante para nós e para os nossos fãs, mas acho que nos saímos bem!

O fogo como tema central de «Tibi Et Igni»: porquê, e também qual a razão para o título em latim?
O fogo é algo que acompanha a humanidade desde o princípio da vida. Aliás, está na base dela e, quem sabe, não será também o fim da vida… Seja destrutivo ou criativo, o fogo é simbólico e inspirador, daí que partimos dessa chama: podes ver, podes sentir e ouvir o fogo em muitos aspectos, no nosso álbum. Claro que são tudo metáforas onde também incluímos o fogo infernal. Escrito em latim para dar um toque secreto à coisa. E essa é a outra inspiração deste álbum – o segredo. É o que nos faz como pessoas, que define o nosso carácter; há segredos que devem ficar guardados para nós mesmos. Hoje, tenho a sensação que isso desapareceu. Anda toda a gente à frente de um PC a partilhar tudo com todos, na maioria, trivialidades. Estive uma mês nessa F“coisa” e chegou-me.

Achas que já há um vincado hiato entre hábitos de pessoal da velha guarda e novas “gerações digitais”?
Um pouco, sim. Claro que é porreiro poderes partilhar as tuas emoções sobre arte, música e coisas desse género, mas porquê online? Porque não, em encontros reais, como acontecia no passado? Essa irmandade foi uma das razões porque me comecei a interessar pelo metal. Queria pertencer a um grupo de pessoas, para ouvirmos música juntos, amigos reais que iam a concertos… Hoje, parece-me que as pessoas se encontram, por uns minutos, em festivais de milhares, nem falam muito e preferem ver música no YouTube, onde o concerto é sempre igual. [risos] Eu adoro a internet, mas devia ser utilizada apenas como ferramenta, nunca como substituição da vida real.

A LOUD!, em parceria com a PRIME ARTISTS, tem para oferecer entradas para o espectáculo dos VADER! Ganham os primeiros leitores que nos enviarem um e-mail com o nome completo, número de BI/CC e o assunto “EU QUERO IR VER OS VADER” para geral@loudmagazine.net.

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