UMA VIDA EM TONS DE MAIDEN (capítulo V)


A LOUD! de Outubro vive os seus últimos dias nas bancas. Para vos lembrar porque é que esta edição, com os Iron Maiden na capa, é obrigatória, caso ainda queiram ir a correr à papelaria resgatar a última cópia disponível, fica aqui o nosso José Almeida Ribeiro a encerrar a nossa série de posts alusivos à banda britânica em beleza, com o «Piece Of Mind».

PIECE OF MIND
[1983, EMI]
Para explicar o porquê de escolher o «Piece Of Mind» tenho de contextualizar. Perdoem-me o extenso prelúdio. Tive um estranho percurso no que respeita os Iron Maiden. Ao contrário do que terá acontecido com grande parte de quem nos lê, a banda inglesa não fez parte das minhas bases. Ou melhor, fez, só que de uma forma ténue. Lembro-me de ter tenros dez aninhos – ainda cegamente convicto de que os Manowar eram a banda mais barulhenta do mundo (“santa” ignorância!) – quando vi em casa de um amigo de infância, por entre vídeos de Metallica, uma cassete com o videoclip de «Be Quick Or Be Dead». Os cinco primeiros discos dos Metallica e os quatro primeiros dos Megadeth preenchiam, na altura, boa parte do meu imaginário musical e até eram mais pesados, porém algo naquele videoclip tinha um toque sinistro que me atraiu à primeira. Lá consegui uma cassete do álbum completo e confesso a minha desilusão, após as duas ou três primeiras audições. Não era, de todo, o que esperava. Onde estava a urgência e a intensidade da canção que vira e ouvira no “teledisco”? Aquilo que fazia do «Kill ‘Em All» e até do «Kings Of Metal», os meus álbuns favoritos à época. Ainda hoje, acho que o «Fear Of The Dark» só é superado pelo «No Prayer For The Dying» como pior disco dos Maiden. Mas foi bom descobri-los assim… Só voltei à Dama de Ferro uns três anos depois, quando saiu o «The X Factor». Pedi aos meus pais para me comprarem um CD e transformei um simples dia de compras em família numa bela relação de longo prazo com a Dama de Ferro. Adorei o «The X Factor» e decidi ir atrás dos outros discos. Tinha de recuperar o tempo perdido. O primeiro que arranjei, numa cassete já bem cansada, emprestado por alguém que já não me lembro (obrigado na mesma!), foi o «Piece Of Mind». A minha percepção dos Maiden mudou para sempre! Foi uma lavagem cerebral de que precisava. Totalmente distinto do «The X Factor» (injustamente subvalorizado), era tudo aquilo que, inocentemente, procurar no «Fear Of The Dark» e não tinha conseguido encontrar. Alma, fulgor e capacidade de arrebatar.

Aquele quinteto de abertura perfaz uma das mais fantásticas sequências – senão mesmo a melhor – de canções na carreira da banda. Os riffs poderosíssimos de «Where Eagles Dare», o gancho gigantesco de «Flight Of The Icarus», a maravilhosa «Revelations» (o primeiro mini-épico assinado por Dickinson, nos Maiden)… Enfim, nem será preciso dissertar sobre «The Trooper» ou «Die With Your Booots On», certo? Precisamente vinte anos depois e com uma visão bem mais abrangente da carreira dos Maiden, percebo melhor quão especial é este álbum, mais que nãp fosse por ter juntado duas das três traves mestras dos Iron Maiden dos últimos 30 anos: Nicko McBrain e Bruce Dickinson. O primeiro trouxe arrojo, um estilo único e uma fluidez rítmica que a banda não tinha antes, acrescentou um toque de funk e potenciou a diversidade, abrindo portas à exploração de territórios mais técnicos e progressivos. E fê-lo logo neste disco! O segundo, que se havia estreado no igualmente excelente «Number Of The Beast», a fazer uma afirmação incontestável das suas capacidades como vocalista, e,  sobretudo, como letrista e compositor. «Piece Of Mind» só não é perfeito porque existe um certo desequilíbrio qualitativo entre o lado A e o lado B, no qual só «The Trooper» está ao nível da primeira “metade”. De qualquer forma é o “meu” disco de Iron Maiden, o que me revelou a verdadeira essência da banda e o que cimentou as fundações daquilo que são, como os conhecemos hoje!

JOSÉ ALMEIDA RIBEIRO

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